Regulação impacta a cultura das empresas

Cabe às empresas decidirem se para o bem ou para o mal

por Fernando Lohmann e Humberto Branco

O Brasil vem passando por um longo e conturbado processo de regulação de diversos setores econômicos, iniciado na década de 1990. Desde então, o País busca reduzir a presença do Estado em atividades-fim, privatizando estatais ou criando concessões. Naturalmente, a contrapartida da saída das atividade-fim foi o aumento da presença do poder público através do controle, da fiscalização e da regulação.

A expansão da presença e do poder das agências evidencia essa dinâmica. Todos os setores com relevância na economia brasileira, atualmente, estão hoje sob padrões de regulação que não existiam ou eram completamente diferentes há 20 ou 30 anos e esse processo, de uma forma ou de outra, afeta a vida das empresas. Em alguns aspectos até de forma bastante limitante.

Porém, há aspectos da regulação que podem produzir consequências muito positivas não só para a sociedade – de forma mais difusa –, mas para as empresas afetadas diretamente por esses conjuntos normativos. Se as empresas souberem fazer a correta leitura e se ajustar a esses movimentos, podem verdadeiramente se beneficiar e vencer nos territórios das suas estratégias.

 

as respostas às regras
do jogo de mercado são
uma das mais poderosas fontes de padrões

E a Cultura? Onde ela entra, neste contexto?

Cultura é produto de padrões. No ambiente empresarial, esses padrões são gerados por várias fontes, sendo que
as respostas às regras do jogo de mercado (dadas pela regulação) são uma das mais poderosas fontes de padrões, em particular em setores como energia, transporte aéreo, infraestruturas e óleo & gás.

Em meio à forte regulação, temos observado o surgimento de dois grupos de empresas:

  • As que decidem aprender rapidamente as regras do jogo e adaptar suas práticas ao modelo de regulação em que estão até o ponto de se tornarem experts no novo tabuleiro, se tornando influenciadoras do sistema. Nossa experiência mostra que são essas empresas que têm crescido e vencido, pois foram capazes de ajustar suas culturas às regras para produzir mais valor e resultados

 

  • Há um outro conjunto de empresas que não conseguem ter esta capacidade adaptativa. Insistem em reproduzir modelos antigos que menosprezam novos padrões institucionais, seus competidores, não aprendem ou demoram demais para praticar as novas regras do jogo. Neste grupo, até identificamos um discurso renovado, mas que não chega até as práticas e os processos de fato. Permanecem no mesmo lugar.

O cenário atual de regulação no Brasil vai seguir seu rumo. Deve passar por contínuos ajustes mas, ao passado, não voltará. Haverá cada vez mais regras e controles, particularmente em segmentos intensivos em capital, cujas operações são complexas e de grande porte. Nesses mercados, as empresas com maior sucesso serão as que conseguirem converter conhecimento das regras do jogo em práticas eficientes, que as tornem conformes e audaciosas, habilitando-as a vender mais, por melhores preços, com melhores margens, em mais mercados.

Cultura é vantagem competitiva.

São as práticas empresariais que a efetivamente moldam, transformando-a em alavanca para produzir  os resultados objetivos e mensuráveis. Nesse ponto é que a gestão da cultura sai do lugar inócuo onde foi posta há anos e passa a se tornar disciplina de gestão, capaz de gerar performance e resultados.