É preciso ressignificar o setor para atrair os novos talentos

O artigo “É preciso ressignificar o setor para atrair os novos talentos” da nossa sócia, Alessandra Simões, foi destaque na Revista Think Energy. Um texto bem interessante. Confira abaixo:

 

Alessandra Simões

 

Como atrair e reter talentos nessa indústria – visto que a nova geração opta por carreiras que não envolvem grandes oil companies, diante da imagem histórica negativa do setor.

O setor de petróleo e gás historicamente sempre foi um relevante empregador para o estado do Rio de Janeiro e para o Brasil de forma geral. Nos anos 2000 o setor representava 3% do PIB e em 2012 chegou a aproximadamente 13% do PIB nacional. O número de empregos também foi impactado por esse crescimento, a taxa de desemprego no Brasil era de 9,9% em 2002 e passou para 6,7% em 2012.

 

Quem se lembra do famoso apagão de talentos de 2010/ 2011? O gap de 150 mil engenheiros que a indústria precisaria para suprir sua necessidade de mão de obra? Apesar de todos esses desafios, o setor de petróleo nunca teve dificuldade em atrair profissionais, muito pelo contrário, os profissionais se sentiam seduzidos pelos altos salários, em média 20% acima dos demais setores, pelas cifras e pelas oportunidades de crescimento do setor.

 

Após áureos tempos, não só o Brasil mas a indústria de petróleo globalmente entrou em crise, colocando milhares de profissionais altamente qualificados no mercado. A crise talvez tenha sido um pouco mais longa do que se esperava, principalmente aqui no Brasil, por conta da mudança no marco regulatório e o caso “lava-jato”.

 

Em 2014, o número de profissionais de engenharia demitidos superava o de contratados, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

 

Ao longo do período de recessão, muitos profissionais que se dedicaram e se qualificaram para atuar em petróleo se recolocaram em outros segmentos, outros estados e às vezes até mesmo em outros países e não tem mais interesse em retornar para o setor. Abrindo assim, a primeira lacuna nas estruturas organizacionais, uma lacuna de senioridade.

 

A segunda lacuna que se formará, caso o setor não consiga se adaptar, será por conta da atração dos novos talentos. Talentos estes, que não mais se seduzem apenas por alto salários.

 

Durante a crise, algumas organizações abriram mão da sua estratégia em geste e gestão. Se permitindo não acompanhar de perto todas as mudanças que aconteciam na nova geração de trabalhadores que estava sendo formada.

 

Em 2017, bons ventos voltam a sobrar e o mercado, mesmo que ainda timidamente, volta a aquecer. A retomada do valor do barril, a revisão do marco regulatório, a retirada da Petrobras como operadora única do pré-sal, os desinvestimentos da Petrobras, novos leilões, esses são alguns aspectos que fizeram a pauta do setor passar a ser desenvolvimento e não mais retração.

 

As perspectivas são novamente positivas e de crescimento. Segundo IBGE (gráfico abaixo) a projeção do PIB carioca é na ordem de grandeza de 5% em 2022. Estimasse que as exportações irão continuar crescendo e a produção deve saltar dos atuais 2,7 milhões de barris por dia para 5,5 milhões em 2027.

Todas essas boas notícias sobre um setor que já representou aproximadamente 60% do PIB carioca quase que passam ao largo da nova geração de talentos. Dando, às vezes, uma sensação de não pertencimento a isso tudo.

 

Pela primeira vez, o setor de petróleo terá que se adaptar para atrair profissionais. A remuneração habitualmente paga acima da média não é mais suficiente para atrair essa nova geração.

 

O setor de petróleo e gás tem alguns desafios a romper frente a nova geração. Uma delas é sobre a finitude do setor, lembrando que até hoje se explorou aproximadamente 5% das reservas brasileiras. Vale, também, lembrar aqui, que a idade da pedra não acabou por falta de pedra.

 

A nova geração, entende-se por nova geração a “x”, “Y” e a “Z”, na sua maioria, enxerga o setor de petróleo e gás como ultrapassado. Com uma imagem de poluidor, corrupto e antiquado. Tudo o que essa nova geração não admira e não quer para si.

 

Segundo uma Pesquisa da Box 1824 com a McKinsey de 2017, “os reflexos do comportamento da nova geração formarão o maior abismo geracional já registrado. Poucos modelos existentes são referenciais para estes jovens. Isso porque na cabeça deles, empresas precisam ser radicalmente éticas, acessíveis e singulares. Isso significa que eles buscam empresas nas quais o marketing é o guardião da ética e não das promessas vãs e da comunicação unidirecional. Claramente, o Z valoriza muito mais o acesso do que a posse, característica já latente nos Millennials, mas visceralmente potencializada.”

 

Ainda sobre a pesquisa, a nova geração aceita amplamente a diversidade e a igualdade de gêneros, poupam dinheiro e querem mudar as relações e formatos de trabalho. Eles trarão impactos significativos nos ambientes de trabalho, exigem transparência e comunicação aberta, com follow ups frequentes, semanais ou diários, constantes e precisam sentir que as empresas estão genuinamente interessadas em sua evolução.

 

Eles buscam propósito, um ambiente flexível, com conectividade, senso de pertencimento, inovação tecnológica etc. E talvez seja pelo caminho da inovação tecnológica que o setor se ressignificará para essa geração.

 

O mundo passa por um momento de transformação, por muitos denominado de 4º revolução industrial, e o setor de petróleo não ficaria de fora dessa metamorfose. Além da digitalização a indústria ainda tem um desafio a mais que é diversificar sua matriz energética, não sendo apenas uma indústria produtora de petróleo e gás mas sim de energia. Essa mudança de abordagem, provavelmente seja uma das mais valiosas para ajudar na desconstrução da imagem retrograda do setor petroleiro.

 

Com o propósito de geração de energia pautada em uma matriz energética limpa, eficiente e um ambiente corporativo colaborativo, flexível e tecnológico, a indústria de energia terá um novo significado não só para a nova geração de talentos, mas para o mercado de forma geral.

 

Artigo originalmente publicado na Revista Think Energy, Edição 01 – Ano 2018. https://bit.ly/2Ajo7mF