A economia não pode parar

Humberto Branco e Marcelo Conteçote

Trabalhar e proteger é a missão de toda empresa

O vírus chinês chegou por aqui e prontamente alterou, de forma dramática, a dinâmica da vida das pessoas e instituições.

O isolamento total imposto não tem bom prognóstico se não for ajustado para algo economicamente racional. As parcelas do mundo produtivo que ainda operam, se mantido o isolamento total, em breve acabarão parando por colapso nas cadeias de suprimento.

A ruptura sistêmica é lógica: faltam materiais, não se comercializada nada, se interrompe pagamento de impostos, então de fornecedores, demite-se funcionários. Aqui no Brasil, quando esse processo atingir seu ponto crítico (dentro de algumas semanas ou poucos meses), teremos um país falido e com um Estado obeso sobre ele, juntos assistindo à fuga dos que têm reservas para outro lugar possível.

 

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Se realmente queremos um país funcional, não há outra alternativa que não seja retomar a produção. RETOMAR A ECONOMIA É FUNDAMENTAL. Medidas de confinamento total podem ser necessárias em grandes cidades num primeiro momento, mas são impraticáveis por mais de uma ou duas semanas.

Produção econômica e proteção da população contra a pandemia não são antagônicos. Para cuidar das pessoas não precisamos parar a produção completamente. Ou até podemos, mas isso não é uma opção no mundo real, de economia de mercado. Nem num país rico isso ocorre ou resiste por muito tempo. Simplesmente não há dinheiro para manter 100% das pessoas em casa, sem produzir.

A gestão disso é análoga à da gestão de segurança operacional da aviação, por exemplo. Para não se ter nenhum acidente aéreo, simplesmente não há como optar-se por não ter aviões voando. O equilíbrio está em COMO operar no melhor nível de segurança possível. A mesma coisa ocorrerá no nosso caso: sabendo que não controlaremos toda a pandemia, como voltar a operar em níveis de segurança razoáveis e protegendo nossas vulnerabilidades? Nesse caso, a estatística mostra que a maior vulnerabilidade (risco) está em pessoas com mais de 60 anos, ainda mais com outras doenças.

Conhecidos os limites de risco (e os dados da realidade concreta são referências definitivas), será possível decidir sobre o que é mais adequado para combinar a produção com proteção das pessoas. Tomadas as decisões, a cultura de comando e controle – de natureza militar – é a que mais interessa nesse tipo de gestão: emergência se responde com objetividade e absoluto pragmatismo.

O que é essencial para as empresas neste momento?

Quais são os nossos limites de diminuição das atividades vis-à-vis o que é viável fazermos para proteger nossas pessoas?

Culture means Performance atua há anos ajudando empresas a – face aos seus desafios de negócio – tomar melhores decisões em relação à sua governança, seus processos e sua gestão de pessoas. Com base na nossa experiência, entendemos que algumas iniciativas nos parecem fundamentais para lidar com binômio proteção X produção neste momento.

 

  • Empregados com sintomas deverão ser orientados a não vir trabalhar. Se vierem, imediatamente deverão retornar para suas casas. Suporte à sua recuperação, orientações de cuidados domésticos são deveres do empregador que precisará do trabalho dessa pessoa assim que ela tiver melhorado

  • O mesmo vale nas relações com a cadeia de valor: empresas de grande porte precisam atuar para disseminar, rapidamente, essas práticas para clientes e fornecedores

Há chance de sairmos dessa situação melhor do que entramos

  • O foco das empresas precisará ser nas áreas operacionais, essenciais, bem como no caixa, nas finanças. Os empregados das áreas corporativas são importantes, mas não precisam se expor nem expor os outros em escritórios aglomerados. Saber trabalhar e ter disciplina em trabalho remoto será crucial, tanto quanto dispor de infraestrutura para que tudo continue a funcionar

 

  • Nada disso, num primeiro momento, será feito na base de convencimento pela conscientização das pessoas. As práticas, as regras, os sistemas moldarão a prática das pessoas

 

  • Cultura de disciplina e foco no essencial será disseminada por regras e por mensagens muito claras da alta liderança, com intolerância a desvios. Os empregados, vendo as regras das empresas funcionando, reproduzirão a mesma coisa nas suas casas, guardadas as devidas proporções

 

  • A comunicação interna poderá jogar seu papel verdadeiro: transmitir mensagens importantes, práticas, claras, sintéticas, que todos entendam, falando a verdade e dando instruções

 

  • Por fim, mas não menos importante, há ainda o papel das empresas em apoiar o Estado no que é essencial: a solidariedade com as comunidades vizinhas das operações, com os familiares dos empregados e com as atividades essenciais de resposta à emergência, especificamente com sistemas de saúde e infraestrutura.

 

O Brasil precisa voltar a funcionar e mesmo nesta crise temos toda condição de corrigir culturas paternalistas, ineficientes e que toleram indisciplina. É hora de arregaçar as mangas, pois fazer funcionar empresas com cultura de resultado, foco e disciplina agora é essencial.

Há a chance de sairmos desta situação melhores do que entramos, mostrando que somos capazes de disseminar a disciplina para trabalhar e proteger as pessoas ao mesmo tempo.